quarta-feira, 5 de dezembro de 2018





O livro "A Casca da Serpente" do escritor José J. Veiga foi instrumento de Seminário da disciplina Literatura Brasileira III ministrada pelo professor Raimundo Nonato Gurgel Soares, onde J. J. Veiga reescreve a historia de Os Sertões de Euclides da Cunha sobre outra ótica/visão diferente daquela escrita por Euclides da Cunha. Em seu livro A casca da Serpente J. J. Veiga vem relatar a história de Antônio Conselheiro de outra forma/maneira. Em A casca da serpente o enredo inicia com a fuga do bom Conselheiro com alguns de seus jagunços da guerra de Canudos, visto que não tinham mais como lutar com os soldados republicanos da Bahia, a não ser renderem-se e serem torturados e degolados pelos mesmos. Antônio Beatinho e Bernabé José de Carvalho e demais jagunços pensaram numa fuga estratégica. Foram até o general Arthur Oscar, o que comandava o ataque a Canudos, pedirem redenção, afirmando que seu dirigente estava morto e enterrado. Enquanto isso os outros jagunços teriam mais tempo para fugirem mais para o norte do sertão com o bom Conselheiro, que, na verdade, aqui nesta história ele está apenas doente.
Desse ato de heroísmo desses dois personagens continua o desenrolar da metaficção de forma artística e envolvente que cabe qualificar este grande escritor, José J. Veiga. Este enredo é uma reescritura, um recontar de Os sertões de Euclides da Cunha, podendo ser confirmado na polifonia discursiva que há entre eles.
O desfecho de Os sertões é a morte de Antônio Conselheiro, o jagunço cruel que carregava consigo o estigma do mito messiânico. Morre vitimado de uma disenteria durante as invasões dos soldados republicanos a Canudos. É enterrado a 22 de setembro de 1897. Dia 05 de outubro acaba toda a população daquele arraial. Dia 06 de outubro cai Canudos. Os últimos a morrerem foram em número de quatro pessoas: um velho, dois homens e uma criança. O governo da Bahia encontra o corpo de Antônio Conselheiro enterrado, desenterra-o, corta a sua cabeça e a expõe em praça pública para o delírio de muitos. É tido como romance histórico, enquanto A casca da serpente é caracterizada como metaficção histórica.

Um pouco sobre Antônio Conselheiro...

Antônio Conselheiro de Os sertões era um sertanejo, rude, cruel e muito místico. Era filho de comerciante e separado. Ficou um pouco perturbado depois que encontrou sua mulher o traindo com um soldado. Depois desse fato, sua religiosidade tornou-se uma mistura de catolicismo e candomblé atrasados. Isso devido ao seu isolamento do mundo, e do próprio contexto da colonização do Brasil. Os sertanejos deixavam-se influenciar muito por padres, pastores e falsos profetas. Conselheiro chamava o governo republicano de obra de Satanás. Passou dez anos sumido. Todos pensavam ter morrido. Reaparece alto, magro, barba e cabelos desgrenhados e longos, túnica cinza, cordão amarrado na cintura, sandálias, alforge e chapéu de couro. Pregador de uma doutrina confusa que misturava Missão abreviada e Horas Marianas. Pregava o fim do mundo, preparava as pessoas para a morte e ensinava penitência. Realizava variados sacramentos religiosos. Era seguido por grande número de fiéis. Vivia em pé de guerra com o governo da Bahia.
A última desavença, já habitando Canudos, uma fazenda tida como lugar sagrado, protegida pelas montanhas; foi quando solicita madeira para reformar sua igreja, sua grande obra, e o juiz da Bahia lhe nega. O sertanejo ameaça, então, invadir a cidade. Inicia as invasões pelos soldados baianos a Canudos, até ser tomada e toda população dizimada. Inicia essa Guerra em novembro de 1896 e vai até 5 de outubro de 1897.
Ele acreditava na certeza de ir para o céu se morto em combate, defendendo uma causa sagrada. Mas por ironia do destino, pelo que ora foi narrado, não conseguiu a salvação.
É esse personagem que inicia o enredo de A casca da serpente, mas que com o passar do tempo vai se transformando em um outro personagem tão quanto ou mais interessante e envolvente que o anterior.
A personagem de Antônio Conselheiro corresponde à pessoa marginalizada pela sociedade, que mudará do plano marginal (andarilho) para o plano de poder (dirigente de um povo). É a história de cima (dos poderosos) sendo vista pela história de baixo (os medianos, representantes do povo) (LUCKÁS, (2000). Percebe-se uma crítica à política nacional, à centralização do poder da República, aos soldados que vão pra guerra e morrem sem razão para se fazer valer a vontade de homens egoístas, gananciosos até mesmo psicóticos.



Nenhum comentário:

Postar um comentário